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Significante Psicopedagogia

MARIA LUIZA ANDREOZZI


Artigo publicado na Revista psicopedagogia, da Associação Brasileira de Psicopedagogia, São Paulo, volume 19, número 59, 2002



A Psicopedagogia, como não poderia deixar de ser, é um significante. Significante que expressa o SINTOMA DA EDUCAÇÃO NO ATUAL MOMENTO, e no qual a psicopedagogia se inscreve. SINTOMA DA EDUCAÇÃO, EVIDENTEMENTE como SINTOMA DA CULTURA....

Diante disto, que percurso é possível fazer?

Um percurso que está bem presente no quadro da Educação atual é esse próprio de ALIMENTAR O SINTOMA EDUCACIONAL-CULTURAL DA SOCIEDADE MODERNA - OU DO BEM ESTAR SOCIAL. O DISCURSO DA EDUCAÇÃO DO BEM ESTAR SOCIAL.

Nele, a psicopedagogia como significante se inscreve repousando num sentido ortopédico; com técnicas corretivas, adaptacionistas de diferentes modalidades - tecnicistas, ecléticas, até construtivistas; ...quando idealiza um modelo de sujeito padronizado, em “desenvolvimento” no sentido evolucionista, buscando, mesmo ocultamente, uma pretensa igualdade entre os sujeitos; uma homogeneidade social, bem no sentido de evitar conflitos, os conflitos da DIFERENÇA.

O que é buscado aqui evitar ou corrigir, até eliminar, em nome de uma idealização do BEM ESTAR, são os conflitos... dos famosos “problemas de aprendizagem”... O que há de tão intolerável que se busca evitar nos conflitos? O que teriam os conflitos de estranho, de insuportável cuja aproximação é evitada? Ou diante do qual é formada uma montagem artificial, que desfigura e aparentemente dilui o conflito; que por sua vez reaparece por meio de uma “formação estranha, desfigurada como sintoma”?

A EVITAÇÃO DOS CONFLITOS É A EVITAÇÃO DA SEXUALIDADE COMO FONTE DA DINÂMICA PSÍQUICA DA VIDA NO SER HUMANO.


O conflito expõe o sujeito diante do traumático da sexualidade humana, ou seja, diante da sua sexualidade como experiência intolerável na qual aparece a diferença sexual como núcleo dos conflitos...
Uma alternativa é negar os conflitos, buscando apagá-los, apaziguá-los pela via da RACIONALIDADE, por meio de condutas psicopedagógicas corretivas, reparadoras etc.

A relação entre “problemas de aprendizagem”, conflitos e sexualidade se produz quando o sujeito, o aluno com dificuldades de aprendizagem se vê percebido como “tendo um defeito”, uma marca, que provoca no professor e/ou psicopedagogo a sensação de que se não solucionar adequadamente o “problema do aluno” encontrar-se-á em conflitos, com dificuldades, ou seja, em última análise, com um “defeito”, diante do qual a sensação do intolerável aparece, podendo tomar conta do profissional.

O intolerável é a sensação “tenho algum defeito!”. Sensação que está remetida à diferença sexual, ou seja, à sexualidade humana - da marca O “defeito” que humano possui, diante do qual tem que se posicionar... como humano, castrado. Toda armação para tampar o “defeito”, ou seja, dissimular a sexualidade, tem como efeito a formação de sintomas... A razão técnica e pragmática da SOCIEDADE DO BEM ESTAR, ao se produzir como racionalidade científica, padronizadora, normatizadora, desenvolvimentista, é expert na dissimulação de conflitos; ou seja, no ocultamento da sexualidade.

Podemos acompanhar este movimento nas relações que ocorrem nas escolas com alunos que se manifestam “diferentes”, nos tratamentos psicopedagógicos de natureza corretiva etc, dentro do recorte da aprendizagem, embora esta questão não seja restrita a este recorte, pois a diferença remete o humano à sua marca, ou seja, à sexualidade.

A intervenção psicopedagógica racionalizada e ortopédica é expressão sintomática da Educação Moderna voltada para a produção da Sociedade do Bem Estar; na medida em que ela vai buscar uma “solução” para diluir o conflito, diluir e dissimular a sexualidade...

No que diz respeito à Educação isto é particularmente sério, porque é um campo em que parece que certas questões sobre a sexualidade datam da época vitoriana, ou de um liberalismo - laissez-faire. De todo modo, de ocultamento, de disfarce... Os sintomas dos efeitos do discurso moderno da educação estão aí, e quem os expressa numa forma de contestação social-cultural são sobretudo os adolescentes, quando apontam sintomaticamante para aquilo que em nome do Bem Estar Social é evitado, controlado, por meio de um discurso dissimulador.

Como referência breve disto que estou falando, vou trazer para cá um autor significativo e representativo deste panorama, conhecido de muitos certamente: Edward Thorndike. Ele faz parte da primeira geração dos psicólogos americanos, aluno de Willian James, (filósofo importante do Pragmatismo Americano) e contemporâneo de John Dewey.

Thorndike é o primeiro estudioso das relações da psicologia com a educação de onde primariamente surge uma idéia da psicopedagogia - a idéia mais elementar; mas muito presente contemporaneamente, aquela de união entre pedagogia e psicologia. Thorndike também foi o primeiro a definir, trabalhar e circunscrever o conceito de aprendizagem divulgado até hoje. Sua concepção é um marco representativo da Educação Moderna.

Educação Moderna concebida de modo muito esquemático como aquela que pasteuriza conhecimento, diluindo-o em habilidades obtidas e que converte o rico conceito de Educação em manipulação de comportamentos pela via de reforços que as técnicas de ensino tanto enfatizam.

O que fala Thorndike? Seu conceito de Educação e os objetivos da Educação estão expressos em sua obra mais importante, Psychology Educational, de 1913:

“O objetivo da educação é perpetuar algumas tendências originais do homem, eliminar outra, e modificar ou redirecionar umas terceiras. Se desejamos mantê-las, devemos prover estímulos adequados sobre as tendências, exercitando-as e associando satisfação à sua ação. Para eliminá-las, os estímulos devem se orientar para o desuso da tendência associando desconforto em sua ação” (em Costa, 1993; 185)

Notem o termo estímulo, algo de fora que pode mudar o de dentro. Este conceito se encontra enraizado nos educadores, e com ele a concepção e a idealização de certo poder da educação no sentido de produzir um determinado tipo de homem. Assim, a ação supõe certo perfil de habilidades que vai caracterizar certos ESTILOS DE COMPORTAMENTO ESTIMULADOS. E a educação passa a ser controle de comportamentos, por onde o sentido da transmissão de conhecimentos se dilui.

Mais uma citação que marca um dos eixos da educação moderna:

“A natureza dos alunos bem como a natureza dos estímulos decidem a resposta. DIRIGIR E SELECIONAR A RESPOSTA DOS ALUNOS É A TAREFA DO PROFESSOR” (em Costa, 1993; 256)

A direção de tal condução está assentada na produção da sociedade do bem estar social. Vejamos:

“A ciência diz respeito à acumulação de conhecimentos que podem habilitar o homem a entender e a controlar as mudanças reputadas desejáveis. Às artes industriais cabe pôr em execução as mudanças desejadas. A Educação que inclui ciência e arte, trata igualmente da COMPREENSÃO, CONTROLE E REALIZAÇÃO DE MUDANÇAS QUE PROMOVEM O BEM ESTAR SOCIAL.” (Thorndike, 1936)

Esta é uma síntese esquemática mas significativa dos marcos da Educação Moderna, e suficiente para destacar que percurso ela conduz.

Como a tarefa educacional assim proposta é impossível, claro que surgem os problemas, ou melhor, os conflitos... e as tentativas de dissimular esses conflitos.

Quando a psicopedagogia se inscreve no registro de continuidade, melhor dizendo, de REPETIÇÃO do discurso da Educação Moderna, dissimulando a sexualidade, inscreve-se como sintoma da própria Educação Moderna, que desse modo se manifesta como sintoma da Cultura Moderna.

A Educação se apresenta como sintoma quando alinha os sujeitos numa forma que tem como imperativo o DEVER do BEM ESTAR SOCIAL, tornando-o sintoma: buscando uma solução de compromisso entre reprimido e repressor (consciente e inconsciente) por meio do DEVER da satisfação; impedindo, portanto, que o sujeito expresse sua insatisfação, ou seja, seus conflitos e vicissitudes... ao fim e ao cabo, sua sexualidade e sua posição nela. Ao modelar e até definir as formas de satisfação nos perfis de habilidades padronizadas; requeridas e esperadas dos sujeitos, impede a inscrição da particularidade dos sujeitos. Impede que o próprio sujeito tenha acesso a seu desejo naquilo que dele é possível extrair e representar, pois as formas de representação do desejo já estão previstas no perfil dele esperado enquanto maneiras de dissimular a sexualidade. A que isto conduz? A uma produção de cadeia de sintomas que vão sucessivamente se deslocando metonimicamente. O desejo (que está remetido à sexualidade inconsciente) fica oculto nas mensagens enigmáticas, estranhas dos sintomas.

Exemplos: a busca imperiosa de prazer, ou seja, BEM ESTAR, no aprender, enquanto o aprender, o conhecer traz doses de insatisfação.... Onde fica esta dose de desprazer? Recalcada produzindo um “falso prazer na insatisfação, bem a gosto do sintoma”, que se instala por trazer UM LUCRO SOCIAL DO SINTOMA: TODOS ALINHADOS NA SOCIEDADE DO BEM ESTAR... TODOS COMO UM MESMO.

O SIGNIFICANTE Psicopedagogia também pode fazer outro percurso no quadro da Educação Moderna. O percurso pelo avesso dela. A gosto de Walter Benjamin, “escovar a história em seu contrapelo”.
Revelar a sexualidade oculta e dissimulada, acompanhar o desejo do sujeito (desejo sobre a sexualidade oculta).

Vou utilizar uma afirmação de Lajonquière que me parece ajudar muito nesta investida:

“Por estar o conhecimento estruturado na ordem do significante, sua (re)construção não só implica a (re)construção de um SUJEITO ENQUANTO EPISTÊMICO, SENÃO TAMBÉM A DE UM SUJEITO DO DESEJO” (Lajonquère, 1992; 190)

Esta afirmação requer de quem pense num dito trabalho psicopedagógico rever a concepção de sujeito que possui. Ou seja, rever a concepção epistemológica de sujeito. No que está dito não existe um sujeito que produz conhecimentos e outro desejante; onde os dois devem se entender entrando num acordo. Aquela velha história da relação entre cognição e afetividade... Existe um sujeito mobilizado pelo desejo inconsciente, pela pulsão sexual, que ao se expressar de diferentes e variadas formas no processo consciente constrói conhecimentos, ou seja, faz elaborações, constrói um discurso, usa da palavra com e sem erros, manifestando nesta elaboração seu desejo inconsciente. A forma como o sujeito constrói conhecimentos expressa seu desejo. A relação do sujeito com o conhecimento expressa a relação do sujeito com o desejo, ou seja, com a sexualidade. A cognição se inscreve de uma determinada forma movimentada pelo desejo inconsciente (sexualidade reprimida). Daí porque fazemos atos falhos. Eles não dependem de nossa vontade consciente. Esta é atravessada pelo desejo inconsciente.

Podemos dizer que a Educação tradicionalmente concebida é, sim, transmissão de conhecimentos de que a sociedade precisa para se manter e para a manutenção dos próprios sujeitos. No entanto, se o conhecimento está estruturado na ordem do significante, o que se transmite são significantes. Significante do desejo inconsciente sobre a sexualidade inscrita nos conhecimentos... Por mais incrível que pareçam significantes enquanto ausência de significados, de sentidos, por mais que o professor se desgaste em “deixar os sentidos claros e bem iluminados a gosto da razão cartesiana iluminista”.
É neste registro que podemos pensar na reinscrição da Educação, uma re-leitura do discurso educacional moderno...

Se a educação é a transmissão de significantes - marcas, traços - implica que os sentidos, os significados construídos para os significantes transmitidos, são elaborados pelo sujeito - professor e aluno, a partir de uma lei social-cultural que elabora conhecimentos e os transmite enquanto socialmente reconhecidos. Esta lei, portanto, discrimina o que pode do que não pode, o que é conceito reconhecido socialmente do que não é. E nesse sentido está remetido à LEI DE INTERDIÇÃO DO INCESTO QUE INTRODUZ A CASTRAÇÃO.

A articulação dos significantes produz então um discurso de suposto saber (sobre o desejo, sobre a sexualidade) que é transmitido também enquanto significante para que a partir dele o outro faça sua elaboração, ou seja, seu discurso de suposto saber, levando em conta a lei que permite a construção deste discurso. Nas palavras de Lajonquière, sua (re)construção do conhecimento. O discurso suposto saber que o professor, ou aluno, ou psicopedagogo, ou paciente etc constroem, tem como matéria prima o significante que representa o desejo (sobre a sexualidade recalcada) que se materializa no discurso.

Neste caso a psicopedagogia pode se introduzir com a função de acompanhar estas produções e não ortopedicamente corrigi-las no uso de técnicas etc... Sua inscrição é outra. Ela se inscreve acompanhando o movimento desejante do sujeito na produção de “conhecimentos” enquanto elaborações fragmentárias, como discurso de suposto saber (sobre o desejo inconsciente - sexualidade recalcada). Sim, porque os conhecimentos em si são inacessíveis, pertencem a um lugar Outro, Terceiro, Simbólico da Cultura, Linguagem - Inconsciente (Não saber).

O lugar da psicopedagogia aqui é de trabalhar na emergência do sujeito do desejo (da sexualidade inconsciente), acompanhando as vicissitudes deste processo, satisfatórias e insatisfatórias, de modo que o sujeito possa se inscrever na cultura inscrevendo nela seu desejo e, desse modo, se constituir e constituir a cultura como inscrição de seu desejo; de sua sexualidade. A ética da educação aqui proposta é a ética do desejo que produz a cultura. Lugar Outro, lugar de marcar diferenças, diferente da repetição de seus sintomas... repetindo os sintomas da cultura do Bem Estar Social.

O tratamento das manifestações da relação dos sujeitos com o conhecimento, naquilo que hegemonicamente se chama “problemas de aprendizagem”, ou seja, tropeços, “erros” na aprendizagem, como expressões do “não saber”, são tomados como produções do inconsciente (sexualidade recalcada) que requerem acompanhamento, a entrada na trama dos processos psíquicos e dos mecanismos que produzem e expressam os famosos “problemas”. Percorrer esta trama implica em percorrer o inconsciente que aí se manifesta, suas produções e mecanismos.

Entende-se assim que o lugar do tropeço na aprendizagem é o inconsciente, como sexualidade recalcada, onde se inscreve o desejo. A cognição pode apenas apanhar a trama como lá se produz e expressá-la nas produções conscientes.

Dito de outro modo, o pensamento consciente está sempre produzindo conteúdos que ocupam o lugar do desejo sexual infantil reprimido, isto é, busca em todas suas produções singulares ressignificar a sexualidade infantil impedida. A repressão atua no sentido de impedir uma satisfação total, imediata, narcísica do prazer sexual infantil, senão nada mais restaria a fazer. Ou seja, não seria necessário aprender. Mas, ao operar a repressão, a educação inscreve as possibilidades do desejo, o quanto de satisfação é possível e, portanto, inscreve o objeto a ser aprendido - o objeto que se investe de desejo de aprender.

Percorrendo a história singular desse sujeito, isto é, sua posição diante da interdição do incesto, podemos escutar a metáfora do “problema de aprendizagem” que representa o desejo deste sujeito, portanto, este sujeito, e intervir psicopedagogicamente apostando em sua emergência.

Mas para isto temos que precisar a relação educativa que a psicopedagogia acompanha. A relação educativa implica num compromisso com a cultura mediatizada pelo professor, educador. O que isto significa? Significa que o desejo de quem educa não se aliena no desejo do outro, narcisicamente, mas está mediatizado pela cultura-conhecimento, LUGAR OUTRO - SIMBÓLICO DA LINGUAGEM. E que o LUGAR OUTRO da CULTURA só é acessível pela mediação do outro (no caso, professor) como outro diferente (apontando aí a sexualidade).

Enfim, a relação professor-aluno está mediatizada pelo conhecimento. Não é o desejo direto (narcísico) de um para outro, professor-aluno, que inscreve a transmissão de conteúdos na relação educativa, como se o desejo de um pudesse ser satisfeito pelo outro na modalidade infantil de funcionamento psíquico. Mas o desejo mediatizado pelo simbólico da cultura, cortado, atravessado pela cultura-conhecimento. Diz Gabriel Balbo: “ensinar é desejar o desejo de aprender (conhecer) do outro”.

Esta relação permite sobremaneira o movimento de traços identificatórios pela via das insígnias, significantes da cultura-conhecimento. Opera deslocamentos no sujeito em direção a seu vir a ser - futuro -, deixando o lugar do infantil, por meio dos ideais simbólicos que este pode construir com as insígnias da cultura.

A relação de transmissão de conhecimentos assim posta é uma relação de trânsito, de transferência de um lugar a outro entre imaginário e simbólico, na qual o professor mediatiza a relação e é mediatizado pelo simbólico da cultura.

O psicopedagogo neste lugar acompanha a história do sujeito, como ocorrem seus deslocamentos no sentido de inscrever seu desejo na cultura-conhecimento, produzindo seu discurso de suposto saber. Ou seja, produzindo a (re)construção dos conhecimentos, e aí se constituindo como sujeito do desejo e por isso sujeito epistêmico; transformando a pulsão sexual em pulsão epistemofílica.

O que está suposto aqui é que o tecido do pensamento é um tecido pulsional, sexual, portanto inconsciente, que se transforma na relação de transmissão de conhecimentos - isto é, na relação de transferência.

Mas esta relação é marcada o tempo todo por um registro imaginário narcísico da constituição do sujeito, no qual a pulsão sexual pode ficar retida, retendo o sujeito a uma modalidade de funcionamento infantil (do sintoma) de busca do outro como complemento, afastados do Outro (Simbólico) que fica fora como estranho. Neste caso, fica fora o simbólico da cultura-conhecimento, lugar terceiro de mediação da relação. O que acontece é que tanto o professor quanto o aluno podem desejar que o outro faça de imediato aquilo que um deseja, aquilo que um deles espera. Quando o professor espera que o resultado do aluno seja um rol de habilidades definidas por ele como adequadas e inscreve seu “sucesso ou fracasso” no quanto este aluno conseguiu destas expectativas, dilui a mediação entre ambos, retendo a inscrição do desejo (inconsciente sobre a sexualidade) na complementação do outro (professor), permanecendo na relação espelhada, narcísica e sintomática de um a outro, na qual a sexualidade fica oculta, não emergindo como questão, ou conflito, porque aparece como satisfeita (sintomaticamente).

A Educação da Sociedade do Bem Estar Social tem muito disto. Sua cultura é narcisista. E a busca imperiosa da satisfação (narcísica) imediata a infantiliza, o que se traduz na produção de sintomas, dado que sua estrutura é sintomática.

Neste caso, a psicopedagogia engajada na relação dual de satisfação imediata, que busca evitar insatisfações, conflitos ou frustrações, na qual um vê seu sucesso ou fracasso no outro, dilui o conhecimento - cultura - como lugar terceiro que mediatiza a relação e por onde é possível a (re)construção dos conhecimentos, a elaboração do discurso de suposto saber e, por meio dele, a desmontagem dos sintomas.

Como vimos, a diluição dos conhecimentos é típica da Sociedade do Bem Estar, assim como a diluição da sexualidade. Em seu lugar ficam os controles de comportamentos. A Psicopedagogia que acompanha a Educação Instrumentalizada, Normalizadora e Positivista da RAZÃO TÉCNICA da Sociedade do Bem Estar se instala no registro da repetição do sintoma e como sintoma deste discurso educacional-cultural.

A questão que fica para nossa elaboração é de como significar o significante psicopedagogia. E posto que esta questão também está estruturada no registro do significante que representa o sujeito, ou seja, seu desejo (sobre a sexualidade inconsciente) é uma questão cuja resposta passa pela báscula das articulações do significante que representa o sujeito que faz a psicopedagogia.

Não basta falar na mudança referência epistemológica, pois a posição do sujeito diante do conhecimento é a posição do sujeito diante da sua sexualidade.


Janeiro 2000



BIBLIOGRAFIA

- THORNDIKE, EDWARD LEE. EDUCATIONAL PSYCHOLOGY, New York, Teachers College Of Columbia University, 1925; original de 1913
__________________________________ The Principles of Teaching based on Psychology, New York, A G. Seiller, 1927
__________________________________ PRINCÍPIOS ELEMENTARES DE EDUCAÇÃO, trad. Haydée Bueno de Andrade, São Paulo, Ed. Saraiva S/A, 1936
COSTA MARIA LUIZA ANDREOZZI. “Psicologia da Educação: origens em Edward Lee Thorndike”, tese de doutoramento, PUCSP, 1993
LAJONQUIÈRE, LEANDRO DE. DE PIAGET A FREUD, Rio de Janeiro, Petrópolis, 1992


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