Educação é um ato simbólico de inscrição do sujeito na sociedade e na cultura por meio da transmissão de conhecimentos, de cultura, de significantes que tecem a vida social. Um ato que faz história, historiciza o homem, insere-o numa filiação e convoca-o como sujeito desta filiação. Requer no presente uma relação com o passado para operar a transmissão de conhecimentos-cultura; e com o futuro voltando-se para os ideais simbólicos éticos numa reelaboração constante dos laços sociais.

Para que o ato educativo opere e sustente sua eficácia, deve estar amparado no passado a ser transmitido e num futuro a ser construído. Entre o passado e o futuro, o ato educativo se sustenta nos ideais sociais simbólicos articulados numa ética de humanização, socialização e subjetivização que ele próprio elabora. Estas são condições para que um educador possa ter referências identificatórias que sustentem seu discurso. Ou seja, em sua filiação à cultura através de ideais simbólicos éticos ele tem respaldo para solicitar de quem educa uma contenção, um certo sacrifício ou uma perda no presente, de modo que o educando obtenha em troca a possibilidade de se constituir como sujeito nos laços sociais construindo nesse processo seu lugar social subjetivo e os próprios laços sociais como condição de humanização. O ato educativo socializa, humaniza e subjetiviza em nome da ética que representa. Justifica-se assim a relação educação e subjetividade.

Entretanto, a hegemonia do mercado financeiro, que engendra a modernidade contemporânea centralizando-a no lucro como coisa em si, exclui qualquer mediação simbólica ética para limitá-lo, solapa as referências éticas identificatórias. Esvazia a tradição do passado no esquecimento e desprezo pelo mesmo. Desse modo a educação se dispersa no ato de transmissão pela falta de referências extraídas do passado que validam o ensino, pois só se transmite algo que já ocorreu. Nesse processo esvazia-se também o futuro, pois não há futuro sem passado. Não há futuro senão remetido a um tempo anterior mediado pelo tempo presente. Esvaziando-se o passado e o futuro, a educação como lugar entre o passado e o futuro se enfraquece, fica dispersa. Diante da dispersão, a educação na modernidade atual se manifesta sintomaticamente instrumentalizada para o mercado.

O esvaziamento da educação como ato simbólico e ético produz então um declínio dos laços sociais que sustentam a sociedade, gerando a violência como forma de sintoma social. Acompanhamos momentos de violência expressos de diferentes formas; momentos de ruptura dos laços sociais que ameaçam a sobrevivência humana. A violência surge onde a palavra se esvai, não vale, porque perde a referência simbólica e ética que produz os laços sociais. 

Acompanhamos o enfraquecimento da educação na modernidade atual, por exemplo, através da pedagogização que instrumentaliza o ato educativo com técnicas para controlar comportamentos; e através da definição de “educação como desenvolvimento”. Estas formulações que revestem a educação naturalizam o tecido social do ato educativo; ou seja, ocultam e negam a relação do sujeito com o Outro. A definição de “educação como desenvolvimento” vigente na modernidade atual, desimplica o ato educativo como ato ético: simbólico, social e cultural - histórico -, de inscrição do sujeito na história. Compromete a socialização, humanização e subjetivização do homem. Compromete a vida do homem em sociedade. 

Desse modo a educação expressa o sintoma social da modernidade. Sintoma social manifesto em diferentes pedagogismos. Estes se propõem “enfrentar a crise educacional” através de correções ortopédicas sobre um tecido social desgastado. Não tocam nas contradições e conflitos presentes no mal estar social da atualidade, e deixam no esquecimento as razões históricas que fragilizam o ato educativo.

O site Educação e Subjetividade se apresenta como LUGAR de visitas, encontros, reflexões, trocas, debates, estudo, leituras, trabalho; investindo no sentido ético-simbólico da educação e subjetividade, que assim investe no sentido ético-simbólico do sujeito e da sociedade. Esta aventura implica em investir na ética do desejo do sujeito, ética esta que posiciona o desejo do sujeito remetido à lei simbólica que constitui os laços sociais e desse modo o próprio sujeito enquanto sujeito do desejo que opera a transmissão. Transmissão da lei simbólica, e por isso transmissão de desejo...


MARIA LUIZA ANDREOZZI

Psicanalista com trabalho em consultório. Fundadora e coordenadora da GALATÉA – Centro de Estudos das Relações Psicanálise, Educação e Cultura. Líder do Grupo de Pesquisa do CNPq “Educação e Subjetividade” da Faculdade de Educação da PUC-SP. Editora responsável da Revista “Educação e Subjetividade” produzida por este grupo de pesquisa. Profª. Dra. da Faculdade de Educação da PUC-SP, onde leciona Psicologia da Educação nos cursos de graduação, Pedagogia e Licenciatura. No curso de Pós-graduação lato sensu - especialização em Psicopedagogia, leciona Construção do Raciocínio e Dificuldades de Aprendizagem, supervisiona estágios de psicopedagogia clínica e orienta monografias. Pesquisa as relações psicanálise educação.


Voltar para a página prinicipal

© 2007 educacaoesubjetividade.com.br - Todos os direitos reservados - 2007 [ Webmaster ] [ Política de privacidade ]