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O Ideal dos Pais Educa os Filhos

MARIA LUIZA ANDREOZZI


Artigo publicado na revista SABIÁ da Escola Suíço Brasileira, 2002



Quando uma mulher está esperando um filho, junto a seu companheiro, ocorre de se lembrarem de variadas e diferentes vivências da sua própria infância. Lembram de algumas situações diretamente, e de outras através do que lhes contavam sua mãe, seu pai, suas tias, enfim, seus familiares. Ao ter estas rememorações, cada um dentro de sua particularidade, toma contato com suas experiências da infância, aproximando-se delas. Nesse processo ocorre de rememorarem também os sentimentos que envolviam estes episódios, dando-lhes um colorido todo especial: alegrias, surpresas, tristezas, interrogações, raivas, choros, etc.. Não importa tanto o que aconteceu de fato, importa como cada um representou para si o que viveu. Diante disto os pais são chamados a assumirem uma posição diante do filho(a) que ainda vai nascer. Ou seja, eles formulam expectativas para este filho(a), definem uma série de conteúdos que desejam para o filho(a), e conteúdos que são absolutamente não desejáveis para ele(a). Estes conteúdos fazem com que os pais imaginem o filho(a) que ainda vai nascer de uma determinada forma, com um determinado perfil antecipado à própria existência do filho(a). Assim imaginam um filho ou uma filha gracioso(a), atento(a), forte, estudioso(a), questionador, etc.. Podemos dizer que os pais definem ideais para os filhos, baseados em seus próprios ideais, e sobretudo na maneira como os viveram e os vivem; ou seja, na forma como representam os ideais que conduzem suas ações, sua vida cotidiana, familiar, profissional, com amigos, etc..
Os pais, portanto, retiram os elementos para idealizar o filho(a) que ainda não nasceu de sua própria história de vida. De uma história que revela a maneira como representam os episódios de sua vida.
É com este material idealizado que os pais recebem, acolhem o filho(a) que nasce. Com este material os pais vão cuidar do filho(a) de uma determinada forma, e é com ele que vão olhar para o recém nascido de modo a identificá-lo como filho. Neste sentido basta lembrar das portas dos apartamentos de maternidades. Em cada uma delas está algum objeto que de certo modo representa estes ideais e expectativas dos pais: uma boneca, um boneco corintiano, uma estrela, etc.. Claro que existem portas onde não há nada?!
Os pais vão enfim educar o filho(a) que nasceu através de seus ideais. Munidos desses ideais de modo consciente e inconsciente os pais fazem suas escolhas para o filho(a). Desde a escolha das roupas com as quais vestem o filho(a), passando pela escola em que o colocam, a profissão que imaginam adequada para ele, etc.. O ideal dos pais desse modo constrói a infância do filho(a) e é altamente importante que assim seja, porque a criança necessita dessa matriz para existir, para ser humano. Claro que este processo não é perfeito, simples, estável e explícito em tudo. Ele é complexo, cheio de altos e baixos, mesmo porque a própria história de vida do pai e da mãe, de onde extraem material para formar os ideais para o filho(a), é cheia de complexidades, e não totalmente consciente, possui conteúdos revelados e conteúdos velados, ocultos.
Para continuar esta conversa fica a questão: Será que o filho(a) é sempre passivo e receptivo na direção de aceitar os ideais dos pais sobre ele(a) ? Como cada um se constitui subjetivamente e particularmente, certamente os filhos se constituem da diferença dos ideais paternos. Eles utilizam os ideais paternos não diretamente, mas diversificadamente, diferenciando-se dos pais, opondo-se aos ideais paternos. E esta é a condição de se tornarem sujeitos e não mera repetição alienada dos ideais paternos.


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